Me
assusta o rumo que os brasileiros estão trilhando. Por todos os lados se vê
uma “guerra” simbólica como nunca vista. Todo mundo critica, todo mundo se
ofende. Não há lugar para os debates. Ou é 8 ou 80. A coisa está ficando séria
e, por estarmos olhando apenas para o nosso umbigo, não percebemos que estamos
cavando a nossa própria sepultura.
Uma parte
dos evangélicos e a elite conservadora se levantam como senhores da razão. Gays
e minorias, no revés, comportam-se como seres marginalizados pela sociedade (e
historicamente são), mas ao invés de procurarem selar a paz, atiçam a guerra.
Na
verdade, desde que o pastor e deputado Marco Feliciano assumiu a presidência da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, na Câmara dos Deputados, em 2013, a
situação se agravou. A partir de então, outros figurões do meio evangélico
conquistaram ainda mais notoriedade, como o pastor Silas Malafaia, ícone do
conservadorismo cristão.
Nas
eleições passadas, o candidato à presidência da República pelo PRTB, o sr. Levy Fidélix tornou-se figura non grata, a espúria da sociedade por ter feito comparações grotescas
sobre a comunidade gay. Em defesa da família e dos bons costumes, candidatos
como Pastor Everaldo (PSC) e Eymael (PSDC) sofreram ataques ferrenhos do
eleitorado dito progressista e gay, como o deputado Jean Wyllys (PSOL/RJ). E não parou por aí.
No início
deste ano, a telenovela “Babilônia” (Rede Globo) chegou com ares de
revolucionária. Prometia chocar com a opinião pública e a chamada “tradicional
família brasileira” - termo ironizado pelos meios de comunicação e metidos a
formadores de opinião nas redes sociais. Trava-se, então, um conflito bélico,
só que sem armas de fogo, mas com alto poder de destruição no campo das ideias.
Índices de
audiência inferiores aos que outras novelas na faixa das 21h costumavam ter na
Globo; todo o roteiro foi mudado às pressas; personagens polêmicas tiveram suas
histórias alteradas para atrair novamente os telespectadores. Em resumo, não
adiantou. A novela foi um fiasco. O tiro saiu pela culatra. A “tradicional
família brasileira” venceu. Ora bolas, não é ela que consome esse produto? Não
são as famílias que assistem as novelas? A Globo, conhecida por fazer pesquisas de opinião entre o público para primeiro tomar suas decisões, não sabia que uma novela com
este cunho apelativo poderia dar errado?
É fato que,
encerradas as discussões sobre a novela global, outra polêmica deveria surgir.
Dessa vez, a empresa O Boticário lançou uma curiosa e interessante propaganda
para o Dia dos Namorados (veja aqui) em que três casais se presenteavam com produtos da perfumaria.
Dois casais eram gays. Não houve beijos ou
carícias calientes. A sutiliza marcou toda a peça publicitária, mas nas redes sociais, a
situação pegou fogo. Em pouco
tempo, a parte conservadora da sociedade brasileira começou a se manifestar. O
porta-voz dessa classe, o pastor Silas Malafaia, em vídeo (veja aqui), decidiu conclamar os
evangélicos a boicotarem O Boticário. Do outro lado, gays e minorias e grande
parte dos veículos de comunicação passaram a condenar tal atitude. E muitos
evangélicos também. Afinal de contas, as ideologias de Malafaia não representam
muitos.
Até que
chegou a 19ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo. Com o tema “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim: me respeitem!”, inspirado na novela
“Gabriela”, de Jorge Amado, o movimento que reunia anos atrás mais de um milhão
de pessoas, neste ano, conglomerou pouco mais de 20 mil pelas ruas de São
Paulo. Uma das novidades deste ano foi a participação de um pequeno grupo de evangélicos, que marchou junto à comunidade LGBT alegando que "Jesus cura a homofobia". A afirmação do grupo contrariava argumentos reverberados pelos principais líderes evangélicos do país, que repudiam a conduta da comunidade gay e cada vez mais os afastam da palavra de Deus e do convívio com a Igreja.
Durante o
evento, o site do pastor e deputado Marco Feliciano foi invadido por grupos
ativistas gays. Só que isso não foi o bastante. No alto do desfile pela
paulista, uma transexual chamou bastante atenção. Viviany Beleboni decidiu
fazer uma intervenção artística em que estava representando Jesus Cristo crucificado.
Segundo
ela, a performance fazia alusão aos gays que são constantemente crucificados
tanto por evangélicos quanto por dissidentes da ala conservadora da sociedade.
Assim como Cristo, que não foi respeitado e reconhecido como Filho de Deus
pelos judeus, os gays não são reconhecidos pela atual sociedade brasileira, que
para eles, se comporta de maneira hipócrita.
Até aí
tudo bem. Existem várias maneiras de você expressar a sua dor e o
descontentamento. Não apoio a decisão, deixo claro, mas também não a condeno. Existem outras maneiras de você chamar atenção da sociedade. Contudo, o que me preocupa é a falta de conhecimento histórico de muitos
cristãos. Lá atrás, quando ainda éramos tidos apenas como uma “seita” e
vivíamos escondidos em meio as catacumbas e cavernas por sofrermos perseguição pela
fé que professávamos, não deixamos de conclamar a todos a mensagem das boas
novas. Muitos morreram, foram obrigados a abandonar suas famílias e tiveram
suas vidas completamente mudadas por amor a Cristo. Fomos perseguidos,
humilhados e ultrajados. Hoje, perseguimos aqueles não pensam como nós. Que
contraditório, não é verdade?
Depois que
“conquistamos” a nossa liberdade para viver o amor de Deus, depois de termos
enfrentado maus bocados nas mãos dos nossos opositores, nos comportamos como
algozes. Não, eu não concordo com esse comportamento. Acredito que Jesus Cristo,
em sua mais bela expressão de amor, não faria aquilo que muitos líderes
evangélicos pregam para que seus liderados façam.
"E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes". Marcos 12:29-31
Em
contrapartida, nossos irmãos asiáticos e africanos morrem em poder do grupo
extremista Estado Islâmico. Nos preocupamos tanto com a imagem de uma
transexual pendurada numa cruz, mas não damos a mínima para aqueles que estão
morrendo por não negar essa cruz. A cada mês, os noticiários nos informam que dezenas de cristãos estão sendo mortos. Isso sem contar àqueles que nem nos são informados. Um genocídio semelhante ao que Hitler fez com os judeus na Segunda Guerra Mundial.
Ao invés
de condenar essa transexual pelo ato que ela fez, você já orou pelas vidas,
pela família e pelos cristãos da Ásia e África que tem morrido por não negar a
mensagem da Cruz? Ao invés de disseminar em suas redes sociais o ódio a
comunidade gay, você já tirou alguma parte do seu dia para falar a um gay que
Jesus é capaz de fazer da vida dele algo muito melhor do que ele jamais
imaginou?
Estava
observando o comportamento de alguns amigos e conhecidos no facebook e me espantei com a falta de bom senso e conhecimento histórico de alguns. Fiquei chocado muito mais ao ver que muitos cristãos preferem a espada do que a troca de ideias. Lembre-se que Jesus advertiu Pedro por ter cortado a orelha de Malco antes da sua crucificação (João 18: 1-13). Essa mesma "espada" tem matado cristãos pelo mundo. Apesar de estar diante de um mar de pessoas queixosas com a intervenção da transexual, me admirei com a postagem de uma pessoa, que compartilhou 10 dicas para evitar uma
guerra entre evangélicos (infelizmente de quase todas as vertentes) e o movimento
LGBT. Segue abaixo cada uma delas para nossa reflexão. Que Deus te abençoe.
1.) A
fé cristã sempre enfrentou oposição. Mas não fomos chamados para apontar o
dedo de ódio a todos aqueles que não possuem a cosmovisão cristã. Entenda isso.
2.) Nosso
compromisso é testemunhar da graça de Deus. Isto é, nós éramos piores do que
qualquer um, mas assim como Deus nos perdoou, perdoa a todos que se arrependem.
Testemunho é mostrar como Deus nos transformou.
3.) Esse
testemunho é realizado em amor, não em ódio, indignação ou repulsa. Não fomos
chamados para nos indignar contra quem quer que seja. Jesus não agiu dessa
maneira nem com seus torturadores na cruz.
4.) Do
mesmo modo como Deus nos aceitou temos que aceitar a todos. Imagine sua
situação diante de Deus e como ele te aceitou (você era muito pior do que o
homossexual que tanto despreza).
5.) A
mudança de vida é um trabalho de Deus, não nosso. Essa é uma parte difícil,
pois no fundo achamos que a tarefa de mudar o coração das pessoas é nossa.
6.) A
defesa da fé é feita no sentido de alguém tê-la entendido de maneira
equivocada, e não no sentido de impô-la a todos.
7.) Não
adianta ficar espantado com a reação das pessoas contra parte do cristianismo
quando o que mais se vê é discurso de ódio e segregação.
8.) A
fé cristã não está sujeita a qualquer tipo de guerra sociológica ou cultural.
9.) Não
adianta falar em perseguição enquanto não fizermos todo o possível para ter paz
com todos.
10.) Podemos ficar indignados com certas imagens
que vimos este fim de semana, mas nossa resposta deve ser o amor. Lembre-se de
que o pecado não aboliu a imagem de Deus em ninguém, por isso todos possuem a
mesma dignidade.
Olá a todos!
ResponderExcluirEste é um blog coletivo, por isso nem todos os componentes podem concordar total ou parcial com a opinião do autor.
No meu caso eu assino em baixo o texto, com ressalva ao parágrafo 11º, onde o autor diz não concordar com o ocorrido, embora entenda. Eu me posiciono de maneira indiferente com relação ao "concordar" ou "discordar" do tipo de "Protesto"
Contudo o texto em si se completa e espelha minha opinião sobre o assunto!
Muito Obrigado por visitar!
*Ofensas não serão aceitas*
cara, que blog genial! é difícil eu me deparar com um espaço com essa temática (cristã) que tenha tanto senso crítico. muito bom!
ResponderExcluirconcordei muito com a frase "Ou é 8 ou 80". hoje em dia, tu vai no facebook (em páginas) debater e vê que se criou um verdadeiro campo de guerra. a galera não quer mais debater, mas sim estar certa. quer impor o que pensa. de um lado os fanáticos religiosos dizendo que isso é maldição e do outro os ateus falando que deus não existe e blablabla, distorcendo todo debate.
é bom encontrar um debate em que ambos os lados expõe seus lados com respeito, a fim de esclarecer algumas ideias importantes.
não vi o ato da trans como uma afronta. creio que os que ficaram ofendidos com o protesto não se preocuparam somente com o "uso da imagem de jesus", mas na usuária ser uma mulher trans. assim, cria-se imaginariamente um campo de guerra entre LGBTs e religiosos fanáticos que parece não ter fim.
pessoas como o feliciano pioram ainda mais a situação. ele pegou imagens que não foram da parada gay e botou em seu site, dai todo mundo começou a compartilhar taxando os LGBTs... precisamos de mais cuidado, mais senso crítico!
quando, na vdd, deveriam estar todos unidos procurando o bem estar do próximo, sem querer impor nada na vida de ninguém. respeitando, amando, fazendo a caridade.
www.pe-dri-nha.blogspot.com